Entrevista | Ricardo Luis Radis Steinmetz – Analista de pesquisa na Embrapa
Uma conversa sobre oportunidades de inovação para tornar os sistemas anaeróbios mais eficientes e acessíveis.
Confira mais um episódio da nossa série de entrevistas sobre o 7º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano (FSBBB)!
Desta vez, conversamos com o Dr. Ricardo Steinmetz, analista da Embrapa Suínos e Aves. Nesta quarta entrevista, ele compartilha insights valiosos sobre oportunidades de inovação para tornar os sistemas anaeróbios mais eficientes e acessíveis.
Com mais de 18 anos de experiência em pesquisa na Embrapa – uma das instituições realizadoras do 7º FSBBB, que acontece de 8 a 10 de abril, em Bento Gonçalves (RS) –, Dr. Ricardo traz uma visão aprofundada sobre os avanços e desafios do setor.
Não perca a entrevista completa e entenda por que o 7º FSBBB é um evento essencial para o setor de biogás e biometano!
Olá, Dr. Ricardo! Para começarmos, você poderia nos contar quais inovações tecnológicas têm o potencial de tornar o biogás, o biometano e o digestato mais competitivos no mercado?
Essa é uma boa pergunta, pois nos permite efetuar um exercício de futurologia sobre o tema. Do ponto de vista tecnológico as inovações direcionadas para a maior eficiência no aproveitamento e transformação dos gases da digestão anaeróbia são ainda estratégicos. Portanto, tecnologias eficientes e de menor custo para purificação e também para reforma do gás tem grande importância.
O mesmo vale para o digestato. Tecnologias que permitem incrementar o valor agregado dos constituintes do digestato são a maior oportunidade. Hoje estamos olhando para estratégias que permitam recuperar e concentrar nutrientes para fins agronômicos, pois ainda é um desafio real para viabilizar projetos com biogás. Mas cabe olharmos além dos setores de energia, biocombustíveis e fertilizantes, necessitamos olhar para toda a cadeia da bioeconomina.
Estratégias de conexão do biogás com as oportunidades ao hidrogênio, a obtenção de outros compostos de valor agregado como ácidos orgânicos ou a amônia branca, o direcionamento do fósforo obtido do digestato para aplicações mais nobres do que o atual ciclagem como fertilizante (ex: retorno à cadeia alimentar ou na produção de eletrônicos), ou até mesmo inovações direcionadas a transformação das moléculas do biogás em compostos que hoje só são obtidos a partir do petróleo (ex: polímeros), são exemplos de como temos muitas oportunidades pela frente.
Como a Embrapa e têm trabalhado para conectar empresas e pesquisadores no desenvolvimento de novas soluções?
A Embrapa é uma Instituição de Ciência e Tecnologia e tem propósito de auxiliar o desenvolvimento brasileiro em temas relacionados ao agronegócio e agroindústria. A cooperação com empresas do setor é essencial. A Embrapa trabalha com processos de inovação aberta, portanto possuí diversas possibilidades de parceria, desde programas de interação e apoio à startups, projetos conjuntos de P&D para desenvolvimento de tecnologias, prestação de serviços de pesquisa especializados, transferência de know-how e também o licenciamento a empresas de ativos tecnológicos da Embrapa já existentes.
Também sempre estamos preocupados em estar conectados com as demandas setoriais e o Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano é uma das oportunidades para interagirmos e construir parcerias com as empresas. Mais informações podem ser obtidas em "ativos para parcerias" - "cooperação com a Embrapa".
Qual o impacto de sistemas anaeróbios aplicados na redução da pegada ambiental do setor agropecuário?
Muito importante essa reflexão. Levando em consideração as metas brasileiras para mitigação de Gases de Efeito Estufa, o setor agropecuário tem muita importância, pois os sistemas aneróbios tem oportunidade de capturar metano biogênico e também evitar emissões proveniente do uso de combustíveis fósseis.
Se olharmos para a cadeia de proteína animal como exemplo, isso pode auxiliar diretamente no inventário de emissões dentro dos 3 escopos definidos pelo GHG Protocol. Dentro do abatedouro, no escopo 1, o metano originado pelos resíduos é capturado reduzindo o impacto direto dessa emissão. O simples aproveitamento do gás para suprir demandas internas da indústria, tanto energia elétrica quanto uso de diesel, permite mitigar ainda mais essa pegada ambiental.
O mesmo vale para os dejetos dos animais nas granjas, muitas vezes enquadrado no escopo 3. Nesse contexto também agregamos a oportunidade da ciclagem de nutrientes do digestato, o que evita o uso de fertilizantes de fonte mineral e que tem uma pegada ambiental acentuada.
E quando tratamos da logística de insumos ou dos produtos da cadeia, geralmente como parte do escopo 2, temos oportunidade substituir o diesel pelo biometano nos caminhões que transportam os alimentos.
Assim como na cadeia de proteína animal, essas possibilidades são replicáveis em outros setores agrícolas e agroindustriais. O setor sucroalcooleiro é outro grande exemplo de possibilidades.
Cabe ressaltar que o país ainda tem uma possibilidade muito grande de crescimento e gerar um impacto muito maior do que conhecemos hoje. O Brasil tem condições de liderar esse movimento de sustentabilidade.
Para finalizar, você poderia compartilhar com nossos leitores como os pequenos e médios produtores podem ingressar no mercado de biogás de forma sustentável e rentável?
A escala é sempre um desafio para viabilidade econômica. Ela permite redução de custos e assim aumenta a competitividade do negócio. Porém os pequenos e médios produtores, sozinhos, geralmente não conseguem viabilizar financeiramente projetos com biogás.
Por exemplo, fazendo uma conta rápida em um cenário de produção de energia elétrica com biogás, para viabilizar tecnicamente o uso de um grupo gerador de 75 kWh (operando 24 h x 7 dias), será necessário algo em torno de 750 a 1.000 m³ de biogás por dia. Esse requisito de volume é bastante significativo e pode inviabilizar o projeto para um suinocultor que irá utilizar os dejetos dos animais no biodigestor.
Uma alternativa é estabelecer projetos conjuntos, onde os produtores rurais formam clusters (ex: cooperativa) e executam o projeto em conjunto gerando biogás em uma planta centralizada ou mesmo usando estratégias descentralizadas de geração de biogás, mas conjuntas de uso deste gás.
Outra necessidade é o estabelecimento de políticas que incentivem a implementação das tecnologias a campo, melhorando as condições de acesso a crédito por exemplo ou mesmo condições fiscais para o pequeno produtor.
Vale lembrar que além dos desafios financeiros, o biodigestor tem vários atributos positivos ambientais e sociais. O incremento tecnológico na propriedade rural familiar, muitas vezes tem efeito estimulante para ocorrer a sucessão na gestão e manutenção da atividade. Neste caso, devemos também olhar para políticas que viabilizem projetos menores, de pequeno porte e com soluções simplificadas, onde o biogás poderá ser aproveitado para cocção de alimentos, na limpeza de materiais que pode beneficiar padrões sanitários (ex: ordenha), para mesmo aquecer a água da residência evitando uso de chuveiro elétrico, ou mesmo estimulando o uso deste gás em pequenas agroindústrias familiares.
Para que esses processos ocorram necessitamos da integração dos atores envolvidos, desde a extensão rural que tem papel vital para adoção de tecnologias a campo, até a sensibilização dos agentes governamentais para viabilizar leis ou programas que auxiliem os pequenos e médios produtores.
Dr. Ricardo Luis Radis Steinmetz
Analista de Pesquisa na Embrapa - Embrapa Suínos e Aves. Doutor em Engenharia Química, com ênfase no desenvolvimento de processos químicos e biotecnológicos; formado em Química Industrial e mestre em Química com ênfase em análises ambientais; desenvolve atividades no grupo de pesquisa Núcleo Temático de Meio Ambiente na Embrapa (Suínos e Aves) desde 2006, onde coordena atividades do Laboratório de Estudos de Biogás. Perfil no LinkedIn.
7º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano (FSBBB)
O 7º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano reúne, em Bento Gonçalves (RS), os principais agentes da cadeia de biogás e biometano, incluindo empresários, desenvolvedores de tecnologia, agentes públicos, extensionistas, pesquisadores e estudantes. Com um público dinâmico e em constante renovação, o evento se destaca como um dos mais relevantes do setor.
Além das plenárias, os participantes têm a oportunidade de se conectar em um Espaço de Negócios vibrante, que fomenta parcerias e impulsiona novos projetos. Desde sua primeira edição, o Fórum tem se consolidado como um catalisador de inovação e desenvolvimento para o setor de biogás no Brasil. O país, reconhecido por seu imenso potencial na área, se fortalece a cada edição do evento como referência mundial.
📅 Quando: 8 a 10 de abril
📍 Onde: Bento Gonçalves (RS)
🔗 Mais informações e programação completa: biogasebiometano.com.br
Sobre o Fórum
O FSBBB tem como missão impulsionar o desenvolvimento da cadeia de biogás e biometano no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, ampliando seu impacto para todo o Brasil. Consolidado como um dos principais fóruns de promoção de negócios do setor, o evento transcende a região Sul, atraindo participantes de todo o país.
A 7ª edição do Fórum é realizada pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), anfitriã deste ano, em parceria com o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) e a Embrapa Suínos e Aves. A organização do evento fica a cargo da Sociedade Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (Sbera).
O Portal Energia e Biogás é Parceiro de Divulgação do evento, reforçando seu compromisso com a disseminação de conhecimento e o fortalecimento do setor.
Mais informações sobre o 7º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano podem ser obtidas nos canais:
- biogasebiometano.com.br
- facebook.com/BiogaseBiometano
- instagram.com/biogasebiometano
- linkedin.com/company/biogasebiometano
Participe!
Todos os direitos reservados - Portal Energia e Biogás®.
 
                                     Biometano garante seu espaço no LRCAP 2026
                        Biometano garante seu espaço no LRCAP 2026 Modelos de negócios sustentáveis no campo
                        Modelos de negócios sustentáveis no campo Redução das emissões de metano
                        Redução das emissões de metano Biogás e COP30
                        Biogás e COP30 
         Analisadores de Biogás
                        Analisadores de Biogás Biometano: decreto nº 12.614/2025 e o  Certificado de Origem (CGOB)
                        Biometano: decreto nº 12.614/2025 e o  Certificado de Origem (CGOB) Pré-tratamento enzimático
                        Pré-tratamento enzimático Conheça as 19 carreiras mais requisitadas
                        Conheça as 19 carreiras mais requisitadas 
                         
                         
                         
                         
                 
                 
                