Por que não “Integrar” o biogás?
Cícero Bley Jr | Um assunto está tomando conta das ante-salas do 5° Fórum Sul Brasileiro do biogás e Biometano que se realizará de 18 a 20 de abril próximos em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Trata-se da necessidade imperiosa de construir bases melhores para a produção de biogás. Começando por identificar o segmento da Proteína Animal, integrando em sua cadeia de suprimentos as energias elétrica, térmica e combustível originadas do biogás, produzido na biodigestão de dejetos animais.
As indústrias da Proteína Animal constituíram este grande negócio brasileiro ao integrarem carnes, de suínos, aves, bovinos e peixes. Assim também integram ovos e leite. Integraram até alguns insumos fundamentais como a “lenha e o cavaco” para a produção de calor.
Enfim, as integradoras, empresas ou cooperativas, estimulam suas bases de produtores integrados com a garantia da compra dos produtos.
Claro, sempre que estes produtos apresentarem condições ou atendam parâmetros de qualidade que permitam o seu uso ou a sua industrialização, ou mesmo as suas aplicações como suprimentos em suas operações.
Com o biogás e suas aplicações não ocorrem integrações. As iniciativas dependem do mercado, cuja pretensão da autorregulação tem falhado permanentemente. As ações com biogás desenvolvem-se em ambiente aglomerado. Cada um por si. E todos experimentando o gosto amargo da rejeição.
Por que?
- pela complexidade dos Bioprocessos de produção do biogás e derivados;
- pelos insucessos acumulados com processos mal dimensionados;
- pela insegurança tecnológica dos Bioprocessos ofertados;
- pela falta de compromisso com critérios de qualidade;
- pela negligência comum em Assistência pós-venda.
Isso só para citar alguns motivos usados na tentativa de justificar as razões do biogás ter se tornado uma fonte energética rejeitada neste segmento da proteína animal. O que convenhamos não ocorre nos segmentos sucroalcooleiro, mandioca, aterros sanitários, nos quais o biogás vai se firmando a cada dia como fonte energética confiável.
É preciso destacar, no entanto, que estes impedimentos são superáveis, caso se adotadas maneiras apropriadas para lidar com o biogás.
Primeiro: ordenando o espaço onde ele acontece. Para identificar os agentes que podem interagir na produção do biogás e no uso das suas energias. Falamos da produção de proteína animal.
Segundo: que este espaço, ou segmento seja entendido como um ecossistema, no qual os vários agentes que nele atuam, estejam integrados. Em outras palavras, que abandonemos a liberalidade de cada um agir segundo os seus interesses e passemos a oferecer mais do que modelos de Bioprocessos, mas modelos integrados, cujos resultados possam atender padrões de qualidade oficiais. Ou seja, que os produtos energéticos finais, possam ser analisados e que seja demonstrável a sua qualidade.
Isto para que os agentes do sistema possam se utilizar das energias do biogás com segurança quanto a opção que fazem.
Não dá para continuar tratando o biogás como um aglomerado de interesses, que por vezes estão desvinculados de compromissos com os bons resultados.
Como exemplo prático vejamos a questão do diesel.
Com custos crescentes indexados ao dólar porque é importado. Hoje, a sua incidência nos custos da coleta de leite e no transporte das granjas até os laticínios beira 60%. Custo até agora foi repassado aos consumidores. Pressionando os ganhos dos produtores e de tão altos, desestimulam compradores nos supermercados.
Outro suprimento emblemático é a lenha.
Falta lenha para atender as necessidades térmicas do setor. Déficits gigantescos agravados pela exportação de cavaco para a Europa como consequência da guerra.
O insumo mais viável e com poder calorífico capaz de substituir a lenha é o biometano, derivado do biogás e com características combustíveis estabelecidas em normas da ANP. A maior vantagem é ter o biometano produzido aonde será usado, como no segmento Proteína animal.
Mas isto não tem sido considerado.
O biogás perde participação de mercado para outras fontes como a solar, por falta de orientação para a sua aplicação térmica. 95% dos projetos implantados tem como objetivo a energia elétrica. Quando o espaço maior de mercado, neste momento, está na térmica.
E mais. Lenha e Cavaco de madeira já são insumos integrados. As indústrias compradoras estabelecem regras. Consideram as diferenças de Umidade e Poder Calorífico para estabelecerem os preços de compra.
A pergunta que fica e: se já temos parâmetros fixados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP para biogás e biometano...
“Por que não integramos também o biogás e seus derivados?”
Saiba mais
- Cícero Bley | Para Resignificar o Biogás
- 1º Encontro dos Membros do Grupo Nacional Biogás da Proteína Animal
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Sobre o autor
Cícero Bley Jr - Diretor da Bley Energias, Conselheiro Fiscal da Abiogás e Participante do Grupo Agroenergia & biogás/Proteína Animal.
CEO da Bley Energias - Estratégias e Soluções. Apoiador Técnico/Technical Advisor do Conselho Temático de Energia da Federação das Indústrias do Paraná. Tem graduação em Agronomia - UFPR (1971); Mestrado em Eng Civil. Gestão Territorial Urbana e Rural - UFSC (2006); Especialidade: Estratégias em Energias Renováveis e Sustentabilidade; atuou como Superintendente de Energias Renováveis - Itaipu Binacional, de 2004 a 2016; Fundador do CIBiogás - Centro Internacional do Biogás no Parque Tecnológico de Itaipu; Fundador do Centro Internacional de Hidroinformática. Itaipu/Unesco; Fundador e Presidente Emérito da ABiogás - Associação Brasileira do Biogás e do Biometano.
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Autor: Cícero Bley Jr. Publicado em: 02 de abril de 2023.
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