Pesquisador paranaense recebe Prêmio Jovem Inovador dos BRICS, na Rússia
A pesquisa propõe o aproveitamento dos resíduos industriais da produção de açúcar e etanol, resultando em energia renovável e limpa.
Por Renata Thomazi,
O paranaense Thiago Edwiges, Pesquisador da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) - Campus Medianeira, venceu o Prêmio Jovem Inovador dos BRICS, durante o 9º Fórum de Jovens Cientistas, realizado entre os dias 25 e 29 de novembro, na cidade de Sóchi, na Rússia. A condecoração foi feita pelo vice-presidente russo, Dimitri Medvedev, em reconhecimento ao valor da pesquisa, cujo tema é o “Aproveitamento de resíduos da cadeia sucroalcooleira por meio de diversos métodos de tratamento biológico no contexto de uma economia circular”, método que propõe o uso total dos resíduos da indústria sucroenergética, resultando em energia limpa e renovável.
Brasil, vocação sucroenergética
O Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, com 30,6 bilhões de litros, correspondendo a 29% da produção mundial. Deste total, 26,5 bilhões de litros foram provenientes da cana (EPE, 2023). Em 2022, conforme o cadastro do Ministério de Agricultura e Pecuária (MAPA), o país possuía cerca de 360 usinas de produção de açúcar e etanol.
Dados levantados durante a pesquisa da UTFPR, indicam que uma tonelada de cana moída gera 270 quilos de bagaço e mais de 1.000 litros de vinhaça, resíduos da indústria sucroenergética e que se tornam um problema ambiental importante.
Considerando esse cenário, a pesquisa do Prof. Dr. Edwiges apresenta uma solução capaz de promover o aproveitamento total destes resíduos, tradicionalmente vistos como passivos ambientais, e os transforma em fontes valiosas de biocombustível e biofertilizante. Em suma, a lógica da pesquisa foi desenvolvida por meio de um processo dividido em três etapas: pré-tratamento do bagaço junto com a vinhaça, fermentação escura e digestão anaeróbia.

Ciência a favor meio ambiente
Da produção do açúcar e do etanol, o que sobra então são resíduos em estado líquido e sólido, respectivamente a vinhaça, que por ser ácida pode estar relacionada à acidificação do solo prejudicando a produtividade agrícola e a saúde do terreno, e o bagaço, que tem pouquíssima umidade e difícil degradação. A primeira etapa da pesquisa considera misturar o bagaço com a vinhaça, aproveitando as características ácidas da vinhaça, para ajudar na “quebra” do bagaço, contribuindo para o pré-tratamento destes resíduos.
Logo após, inicia-se a segunda etapa, que é chamada de fermentação escura, que vai resultar no biohidrogênio - gás renovável biológico. Deste processo, temos uma sobra carbono, que é colocado em um reator (equipamento que ajuda a ter controle dos parâmetros físicos e químicos), que promove o processo de digestão anaeróbia para produzir o metano.
Prof. Dr. Thiago Edwiges explica que ao reunir esses dois gases renováveis, o biohidrogênio e o biometano, obtém-se o biohitano, um gás que combina as características energéticas do hidrogênio e do metano, só que ainda mais potente, com alto rendimento energético e sustentável. O biohitano pode ser amplamente utilizado, até mesmo para substituir o gás natural veicular na frota que transporta cana-de-açúcar, fechando um ciclo de produção sustentável, emitindo menos gases de efeito estufa.
Desta forma, a produção do biohidrogênio, biometano e do biohitano, promovem a redução de impactos ambientais e a circularidade no uso de resíduos, sendo uma solução promissora para setores que buscam eficiência energética e descarbonização, reduzindo emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para a transição energética nacional, uma vez que pode reduzir em até 95% as emissões de CO2.
Combustível do Futuro
O pesquisador destaca que com o avanço da legislação brasileira, especialmente sobre a Lei Combustível do Futuro, que demandará 1% de biometano na mistura de gás natural já em 2026, o projeto desponta como uma solução estratégica, viável e altamente escalável.
“A pesquisa não apenas oferece uma alternativa sustentável para a produção de energia, mas também reforça a importância da circularidade no setor agroindustrial.”

Solução global
Além do Brasil, outros países dos BRICS, como a Índia, China, Irã, Egito, representam 56% de todo o açúcar produzido no mundo. Por isso, a inovação biotecnológica da pesquisa da UTFPR em parceria com a UFPR por meio de um Estágio de pós-Doutorado do Prof. Dr. Thiago Edwiges no Doutorado em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia não se limita ao contexto nacional: países como Índia e China, grandes produtores de açúcar, têm grande interesse.
Segundo Thiago, “o conceito central é transformar resíduos em recursos, reduzindo impactos ambientais enquanto se cria valor econômico e energético”. A iniciativa reflete a crescente demanda global por soluções que equilibrem progresso econômico e responsabilidade ambiental.
O Prêmio Jovem Inovador dos BRICS, promovido anualmente, reconhece iniciativas disruptivas capazes de contribuir para o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento das economias dos países-membros. Em 2024, o evento foi marcado pelo alto nível de competitividade, com projetos de vanguarda em áreas como energia renovável, tecnologia verde e soluções para as mudanças climáticas.
A pesquisa Prof. Dr. Thiago Edwiges se destacou entre dezenas de participantes, fator que reforça o papel do Paraná como um polo de inovação sustentável. No contexto nacional, este momento simboliza o potencial do Brasil como protagonista global em inovação sustentável.
Com 15 anos dedicados à pesquisa, Edwiges reafirma a importância do investimento em ciência, tecnologia e educação, e destaca como a criatividade e o talento brasileiros podem gerar soluções que beneficiam tanto o meio ambiente quanto a economia.
“O prêmio é mais do que um reconhecimento; ele evidencia o potencial do Brasil em liderar iniciativas sustentáveis e coloca o Paraná no mapa da inovação global”, comemora.
“Este é o reconhecimento não apenas do meu trabalho, não é apenas importante para minha carreira, mas também para a UTFPR, UFPR e para o Brasil, incentivando a ciência e a inovação no país”.
A delegação brasileira foi composta por 19 representantes, dos quais 12 cientistas participaram do fórum, enquanto cinco jovens concorreram ao Prêmio Jovem Inovador.
Sobre o Prêmio: Winners of 7th BRICS Young Innovators Prize Announced
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